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sábado, 16 de agosto de 2014

Os Tomos de Tessa - Entrevista com o autor


Misturando antigo Egito, raças alienígenas, e muita ficção científica, Os Tomos de Tessa é a nova Web Comic que vem chamando atenção na internet. Conversei com o autor Raphael Pinheiro, e ele me explicou um pouco sobre o processo criativo, referências e planos com a HQ.


Todo mundo sabe que um dos meios mais usados para que novos artistas sem patrocínio ou ajuda divulguem o seu trabalho, é a internet. E já tem um certo tempo que jovens talentos dos quadrinhos vem usando desse meio para mostrar o seu material, o que ficou conhecido popularmente como Web Comic.
Com uma periodicidade que geralmente é de uma página por semana, esse modelo de publicar quadrinhos vem chamando atenção e atraindo leitores pela facilidade de acesso e pela possibilidade de ler novas e criativas histórias com um material 100% nacional.
E é seguindo esse modelo de publicação que surgiu Os Tomos de Tessa, criação do carioca Raphael Pinheiro de 21 anos, que conta com uma página no Facebook onde novas páginas são postadas toda quinta-feira, além de uma conta no Tapastic, onde podemos encontrar todas as páginas publicadas até agora.

No início da história conhecemos o personagem Rah Tessalor, um akabiano governante da cidade de Tessa, que já em idade avançada decide por meio de tomos, narrar algumas de suas aventuras na juventude, quando Tessa ainda era governada por seu pai, Set Tessalor.



A ambientação da série é muito baseada no Antigo Egito, porém contando com um toque futurista que traz um clima de novidade. É incrível como os dois temas casaram tão bem, chega a ser quase natural ver naves espaciais sobrevoando pirâmides e raças alienígenas caminhando por desertos sob um sol escaldante. Nesse primeiro capítulo, intitulado "Cura", uma raça rival dos akabianos, os veterranos, surge em Tessa prometendo uma cura praticamente impossível para o avô de Rah, o antigo Tessalor acometido por uma doença degenerativa há 10 anos. Ao contrário de seu pai, que decide confiar nos Veterranos, Rah desconfia da boa vontade súbita dos outrora inimigos de seu povo e planeja uma investigação.
O ritmo de publicação com uma página por semana é lento, e portanto ainda não dá para ter um panorama geral do que está por vir na história, mas ao mesmo tempo é interessante ir descobrindo a história conforme ela vai sendo contada. Tudo pode acontecer.

Fiz uma pequena entrevista com o Raphael onde ele explica um pouco sobre a história, de onde ela veio e até onde ele pretende levá-la.

Como surgiu a ideia dos Tomos de Tessa?

Raphael:  Parece piada, mas a ideia surgiu quando eu tinha cerca de 13 anos. Originalmente chamada de associação capa negra, eu inventei a história para servir de pano de fundo para brincar de super herói com meus amigos. Claro que na época, o roteiro era bem diferente (hahaha). Os personagens eram meio que uma mistura de DBZ com Star Wars e Shinzo (um anime dos anos 90 que pouca gente conhece).


Conforme fui crescendo, reescrevi a história pelo menos umas três vezes, cada uma um pouco mais madura e densa que a anterior. Aos poucos a Associação Capa Negra (ACN para os mais íntimos) foi se tornando A Guilda (Um pouco de spoiler aqui) e o plot de derrotar super vilões com super poderes se transformou num conflito diplomático intergaláctico. Com 20 anos (ano passado) eu comecei a trabalhar na “versão definitiva da história”. Foram alguns meses revisando os personagens e os planetas até chegar num resultado que me deixasse satisfeito. Originalmente Os Tomos de Tessa era pra ser um vídeo game indie, mas por falta de recursos e programadores acabou virando uma HQ e fico feliz que tenha sido assim!

É notória a sua inspiração pelo tema egípcio, e acredito que o grande atrativo da série seja essa mistura de Egito Antigo com clima futurístico. O que mais você usou como inspiração, tanto na criação do ambiente quanto nos personagens?

Meu livro de cabeceira para as referências é o “Eram os Deuses Astronautas” (recomendo hehe), mas a maior parte das referências de cenário são fruto de muita pesquisa e estudo em livros e na internet. Eu sou estudante de arquitetura, então os cenários são realmente importantes para mim. A ambiência toda da série está nos salões hipostilos e Pilones high tech. Outra ótima forma de buscar referências foi em filmes. Existem alguns filmes sobre o tema como Stargate (o filme, não a série) e Duna, além de algumas HQs europeias que tratam do tema scifi de uma forma diferente das americanas como a Trilogia Nikopol ou algumas das histórias do Moebius.



Você costuma publicar uma nova página toda quinta-feira religiosamente. Quantas páginas você já possui prontas à frente da última publicada?

 Isso é um ponto importante! Todo mundo reclama que eu posto apenas uma página por semana. Como quadrinista indie, não tenho tempo hábil para publicar mais que isso (se algum mecenas dos quadrinhos ou patrocinador ler isso e quiser me pagar para produzir, ficarei feliz em fazê-lo hehe). Além do mais, como também escrevo o roteiro, preciso estar alguns passos à frente dos leitores para não cometer gafes no enredo e me preparar na concepção de novos cenários e personagens.

Além de tudo isso, existe o agravante de que há semanas que fico realmente sem tempo e acabo produzindo pouco/nada, o que exige que eu tenha algumas “páginas na manga” para lançar religiosamente na quinta. Em resumo, essa semana publiquei a página 12 da primeira revista que terá 17 páginas. Sim, estão todas elas prontas, só esperando o dia de lançamento. “Por que você não lança logo tudo de uma vez então?” Porque enquanto vou soltando aos poucos, estou trabalhando freneticamente na revista #2 (que ainda estou um pouco atrasado!) de forma que eu consiga iniciar o lançamento dela logo que acabar a #1. Sei que ler uma revista e esperar 2-3 meses pela próxima edição é desanimador.


Sobre o seu processo criativo. Como ele funciona? Escreve o roteiro primeiro, com todos os diálogos e depois vai apenas produzindo as páginas, ou a história tem caminhado conforme você vai fazendo?

Meu processo criativo é bem bizarro! A história geral já existe na minha cabeça, mas transforma-la em um roteiro é bem tortuoso. Primeiro eu escrevo um pequeno texto (cerca de dois parágrafos) que são um resumão de cada revista, assim não perco o rumo a longo prazo. Feito isso, começo a rabiscar num caderno as páginas à lápis enquanto penso os textos na cabeça (sim, as vezes eu esqueço pra onde o diálogo está indo e tenho que fazer de novo). Quando esse croqui das páginas fica pronto, passo para o computador e faço todos os textos já como vão ficar no final (óbvio que sempre rola alterações, até porque muitas vezes eu esqueço o texto que pensei em colocar). Com isso pronto, posso calmamente passar a limpo no computador os desenhos e começar de fato a produção das páginas. Cada um tem algumas camadas: Sketch 1 – simplesmente passar por cima o croqui no caderno; Sketch 2 – traços mais bem acabados que se tornarão o que vai ser visto mais tarde; Ink – Traços finalizados, com sombras e hachuras; - Flat – Cores base da página, que servem de referência para a pintura; Colours – Cores finais, pintadas sobre o flat; FX – Coisas que brilham, Flare, essas coisas.



Quão longe você planeja levar a história? Há alguma espécie de planejamento a longo prazo?

Existe sim. Na verdade, eu fiz um planejamento utópico de 70 revistas para contar TODAS as histórias que eu gostaria. Com uma matemática simples, lançar 70 revistas de 17-18 páginas ao ritmo de uma página por semana levaria cerca de 26 anos para ser lançado! Levando isso em conta, meu objetivo real (e possível de ser alcançado hahaha) é o lançamento do “primeiro arco dos tomos” que possui 10 revistas. Quero muito acreditar que terminarei esse arco com uma edição impressa e uma equipe de artistas!

Qual seu objetivo e planos para o futuro com a história? Poderemos um dia ver uma versão impressa dos Tomos de Tessa? Já tem algo desse tipo em vista? 

Desde o início eu queria lançar uma versão impressa. Por falta de tempo (dinheiro) eu vi que era inviável, então a saída foi lançar como webcomic. Espero que com o tempo, eu consiga uma quantidade de leitores suficiente para me apoiar no lançamento da versão impressa.

Com uma “legião de fãs” grande o suficiente, conseguiria lançar o projeto no Catarse ou um desses crowd funding ou até mesmo pagar a primeira tiragem do meu bolso, sabendo que esses leitores comprariam a revista.
Até lá, continuo lançando a revista virtual e espero conquistar mais leitores a cada dia! Ainda é cedo, mas quando eu estiver lançando a terceira revista também vou bater na porta das editoras para ver se alguma desperta interesse.
 Acredito que meu material ainda está muito escasso pra alguma editora levar a sério. Mais uma vez, quanto mais gente estiver acompanhando e falando sobre os Tomos, mais fácil vai ser para alguma editora abrir os olhos para os Akabianos!



Quem quiser acompanhar, não deixe de curtir no Facebook a página de Os Tomos de Tessa, atualizada toda quinta-feira. Vamos incentivar e apoiar o quadrinho nacional independente, e nossos jovens artistas.