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sábado, 19 de abril de 2014

[Crítica] Capitão América 2: O Soldado Invernal


E o futuro do universo Marvel no cinema começa a se desenhar. Soldado Invernal, além de ter sido o melhor filme do estúdio até aqui, criou situações importantes que vão influenciar os próximos filmes e ditar o caminho para a fase 3.


Baseado na HQ de mesmo nome escrita pelo roteirista Ed Brubaker em 2005, O Soldado Invernal surge como o melhor filme produzido pela Marvel Studios nesse seu coeso universo cinematográfico, seguindo uma fórmula um pouco diferente de seus antecessores. Tendo muito do clima do quadrinho, o filme dirigido pelos irmãos Anthony e Joe Russo é um thriller de espionagem e conspiração que agrada tanto aos fãs de quadrinhos quanto àqueles que são chegados a um bom filme de ação no estilo 007 ou Bourne.
Assim como na HQ, a trama gira em torno da existência do Soldado Invernal, um assassino misterioso que está envolvido em algumas das maiores conspirações do século e que mais tarde se revela como o antigo parceiro do Capitão América, seu amigo James "Bucky" Barnes. Encarada com muita polêmica na época de seu lançamento por trazer de volta um personagem morto há anos, a história acabou se revelando como uma das melhores do herói (se não a melhor) e Brubaker o seu escritor definitivo.

E é com esse personagem dando título ao filme que a Marvel começa a definir o caminho que irão seguir nas próximas produções. Aliás, um dos pontos altos do filme é a perfeita caracterização do Soldado, interpretado pelo ator Sebastian Stan (o mesmo Bucky do primeiro filme), que está uma cópia fiel do personagem na HQ, com direito até ao braço de metal com a estrela vermelha. Com certeza uma das melhores caracterizações de personagens em filmes baseados em quadrinhos.

Logo no início do filme vemos um Steve Rogers (Chris Evans) trabalhando para a S.H.I.E.LD e tentando encontrar o seu lugar nesse novo mundo, enquanto realiza missões para a agência. Porém o Capitão não está tão confiante de que está fazendo algo bom pelo mundo, com sua desconfiança só aumentando acerca de Nick Fury (Samuel L. Jackson) e sua mania de segredos.
É interessante notar como Evans está à vontade no papel do Capitão América aqui, dando credibilidade, carisma e alma ao personagem. Assim como Samuel L. Jackson, que novamente nos entrega um sensacional Nick Fury, passando aquela sensação de que é um cara que você nunca sabe o que realmente está pensando. Há uma cena de perseguição envolvendo o personagem aliás, que é uma das melhores do filme, servindo como ponto de partida do mote principal, que é quando percebemos que a S.H.I.E.L.D foi dominada pelo grupo nazista Hidra, visto no primeiro filme do Capitão e do qual fazia parte o vilão Caveira Vermelha.

Com a agência comprometida, sendo perseguido e sem poder confiar em ninguém, o Capitão se une à Viúva Negra (Scarlett Johansson) a ao Falcão (Anthony Mackie) um ex-soldado traumatizado com a guerra que decide se unir ao herói. A interação de Rogers com os dois personagens é muito boa, principalmente com a Viúva, que tem uma participação bem maior do que nos outros filmes em que apareceu.
Aqui Natasha faz um papel que na HQ originalmente era de Sharon Carter, a Agente 13, participando ativamente com o Capitão na missão e dando de cara algumas vezes com o Soldado Invernal. Sharon chega a aparecer no filme, interpretada pela atriz Emily VanCamp, mas como a título de filme uma nova personagem não teria o mesmo apelo que a Viúva Negra já tem com o público, a agente tem poucas cenas e passa a sensação de estar sendo apenas apresentada para futuros filmes.
Já Anthony Mackie, apesar de aparecer pela primeira vez como Falcão nesse filme, se mostra confortável com o papel e o desempenha muito bem. Rolou uma química boa com Evans, que traz boas lembranças da parceria dos dois nos quadrinhos, já que na história de mesmo nome o personagem tem uma participação muito importante, além de historicamente sempre ter parcerias com o Capitão.

Todas as cenas de luta estão muito bem coreografadas e críveis, trazendo muita tensão ao espectador. Steve usa o escudo muito mais do que no primeiro filme, e isso foi algo que me agradou bastante. Vemos o Capitão lançar seu escudo nos inimigos, ricocheteá-lo, pegá-lo no ar, usá-lo para deslizar pela rua, e finalmente... se defender usando-o como escudo (ora vejam só!). As lutas contra o Soldado Invernal são de encher os olhos, especialmente a que ocorre após uma perseguição no trânsito, em que ele e Steve lutam entre os carros em um belíssima luta onde o Soldado perde a sua máscara e finalmente é revelada a sua verdadeira identidade.



Uma coisa que me agradou bastante em Soldado Invernal foram as pequenas homenagens à obra de Ed Brubaker. Não apenas na sensacional caracterização do Soldado Invernal, que parece saído diretamente das páginas dos quadrinhos, ou na ótima dinâmica com o Falcão, mas também nas cenas adaptadas diretamente da HQ de mesmo nome.

Ao final do longa, a sensação que fica é a de que esse com certeza é o filme que mais vai influenciar no futuro do universo Marvel, e o que foi mais importante para a fase 2. Se Homem de Ferro 3 serviu para mostrar o quanto a tecnologia de Tony Stark está avançada e sua inteligência artificial auto-funcional (o que nos levará a Ultron) e Thor: O Mundo Sombrio mostrou o caminho cósmico que será usado ao apresentar o conceito das jóias do infinito; Capitão América: O Soldado Invernal foi além, mexendo com a parte mais realista desse universo, criando situações que vão mudar tudo o que tínhamos como certo até então. Não quero dar spoilers, mas ao final do filme o que fica é um imenso ponto de interrogação e uma curiosidade mórbida sobre como vão levar as coisas a partir dali.

Funcionando mais como um Vingadores 1.5 do que qualquer outra coisa, o longa possui duas cenas pós-créditos, uma após os créditos inicias e outra após todos os créditos, sendo a primeira uma ligação direta à Vingadores 2 e a outra uma ponte para Capitão América 3.
Com Capitão América: O Soldado Invernal, a Marvel acabou por elevar a qualidade de seus filmes a um nível altíssimo, consagrando de vez o gênero de filmes de super-herói no cinema e provando que dá sim para fazer um filme realista e verossímil sem perder a identidade dos quadrinhos e sem precisar descaracterizar personagens para alcançar o público que nunca leu uma HQ. Um filme de gibi que tem orgulho de ser um filme de gibi, e que não fica se escondendo sob uma falsa ideia de que filmes de heróis só vendem se forem completamente pautados na realidade. É a fórmula Marvel alcançando novos níveis e dominando cada vez mais o mercado.